Meses em casa. Quarentena. Eu tive um reencontro comigo. Pensei que tudo estava resolvido, mas, não, não estava. Na verdade, estava pior, mais bagunçado que a última vez. Mas estar só dessa vez foi diferente, porque me sentir sozinha já não era prazeroso. Eu me senti perdida e afundada em um turbilhão de pensamentos, vivendo sensações desconhecidas. Logo, notei que era desconfortável não ter alguém próximo para conversar, tocar, interagir, e por Deus, eu passei vinte anos vivendo para as outras pessoas.
Fui distribuindo partes minhas, doando a quem parecia não ter o suficiente. Pensei que eu tinha o necessário, todavia, acabou. Simples assim. E as pessoas foram cruéis comigo, porque todos estavam cheios (de mim). Me vi só, tendo que encarar o meu passado para então vislumbrar a saída que daria para o agora. Sim, porque eu estive projetando toda a minha vida para frente sem sentir o impacto disso. Entretanto, sozinha, eu consigo sentir.
Nesse processo, carreguei cargas pesadas, e agora posso abandoná-las. Eu tive que lidar com a indiferença e encerrar ciclos. Finalmente aprendi a dizer adeus — e ah, despedidas sempre doem. Percebi que não importa o quanto eu me esforce, eu não posso e nem devo salvar a todos. Eu precisei entender que no fundo eu também implorava por ajuda.
E quem me resgatou?
Sim, prazer, eu.
Talvez alguns dias não sejam favoráveis. Hoje não, a gente pensa. Mas você continua seguindo, não segue? E vale a pena continuar de pé. A vida vale.
Texto de Giovanna Alencar